sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Alunos participam de oficina e lançam jornal 'Fernão em Dia'

A Oficina de Introdução ao Jornalismo Científico, ação do Projeto Imunologia nas Escolas, já rendeu frutos. Publicado em outubro de 2017, o jornal ‘Fernão em Dia’ é resultado de atividades realizadas pelos alunos entre os meses de agosto e setembro.  Está imperdível:


Os autores das matérias, fotos e ilustrações do jornal são estudantes da Escola Estadual Fernão Dias Paes, em São Paulo (SP), onde estão acontecendo as atividades mensais do projeto em 2017. Esta edição traz temas como saúde mental na adolescência, a profissão do jornalista científico, HIV/Aids, além de fotos e ilustrações produzidas pelos alunos. O jornal impresso será exposto nos murais da escola.

A equipe de redação de 'Fernão em Dia' é composta por: Debora Soares de Novaes, Fernanda Cordeiro Marques, Fernanda Landim, Gabriel Galhardo de Oliveira, Isabella Costa, Isabella Vitoria, Izabella Pires Rocha, Jenifer dos Santos Plaza, Jessé Gomes, Luana Soares de Novaes, Maria Eduarda Ribeiro, Ryan Alves Andrade e Tamires Souza Neves Silva. Todos são alunos do primeiro ano do ensino médio.

A oficina e a produção do jornal também contou com a participação de Milena Barbosa, editora executiva adjunta da Revista de Saúde Pública, Marcellus William Janes, assessor de comunicação da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP); além de Wesley Nogueira Brandão, doutorando pelo Instituto de Ciências Biomédicas da universidade.

Patricia Santos, jornalista científica e gestora na empresa Conecta Ciência, foi a responsável pela oficina; e Verônica Coelho, médica pesquisadora do iii-INCT, é a coordenadora do Projeto Imunologia nas Escolas.

Realizada como extensão do projeto, esta foi a segunda edição da oficina (a primeira aconteceu em 2012 - veja a matéria). Por meio de atividades teóricas e práticas, os alunos entram em contato com noções básicas sobre o jornalismo científico e desenvolvem habilidades de comunicação. Além disso, discutem aspectos da ciência e a relação com as mídias a partir de um elemento comum no cotidiano dos participantes, as produções jornalisticas sobre assuntos científicos.

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

‘Destruidores’ da adolescência: transtornos mentais e depressão em jovens


Do Jornal Fernão em Dia*

Desde o ensino médio, Paulo Rossi Menezes tinha interesse em medicina. No final da faculdade, o que chamava sua atenção era psiquiatria com um enfoque de saúde pública. Depois de se formar, trabalhou um tempo na área e estudou pós-graduação fora do país, na Inglaterra. Depois disso, conseguiu uma vaga de professor no Brasil no Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo (USP), em 1996, e desde então, trabalha com epidemiologia, focando no assunto de transtornos mentais. É professor, pesquisador e chefe de departamento.
Confira nesta entrevista para os alunos do Projeto Imunologia nas Escolas os comentários do professor sobre assuntos como transtornos mentais e depressão. Ele participou de uma pesquisa sobre o tema com quase 75 mil adolescentes de todas as regiões do Brasil. O Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA) de 2013-2014 aponta que a prevalência de transtornos mentais comuns é de 30% entre jovens de 12 a 17 anos. É maior entre meninas (38,4%) do que entre meninos (21,6%).



Entrevista com Paulo Rossi Menezes, professor da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo. Foto: Gabriel Galhardo
O Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA) de 2013-2014 aponta que a prevalência de transtornos mentais comuns é de 30% entre jovens de 12 a 17 anos. É maior entre meninas (38,4%) do que entre meninos (21,6%).

Débora - Por que as mulheres têm a prevalência maior de transtornos mentais comuns?Paulo Menezes - Cerca de 60% das mulheres têm depressão e ansiedade, o dobro do que a gente observa nos homens. Para alguns transtornos, como a esquizofrenia e o abuso de álcool, cocaína e outras substâncias, os homens têm mais chance de ter do que as mulheres. Mas, para depressão e ansiedade, as mulheres têm o dobro de chance quando comparadas aos homens. Existem muitas hipóteses para isso como as diferenças hormonais entre homens e mulheres. Outro fator que tem sido bastante estudado se relaciona com diferenças no estilo de vida. Por exemplo, as mulheres têm o que se chama dupla ou tripla jornada de trabalho. Elas têm emprego, cuidam dos filhos e da casa. Essa sobrecarga poderia explicar a maior presença de depressão e ansiedade nas mulheres. Mas a gente continua buscando entender isso melhor.

Ryan – Além de fatores externos, existe algum fator interno que causa a depressão?Paulo Menezes - Existe. Quando a vida está difícil, a chance de ter depressão aumenta. Mas pessoas que tiveram ou têm alguém com depressão na família têm mais chance de apresentar depressão. Provavelmente há genes que tornam a pessoa mais vulnerável. Nossos genes podem aumentar e diminuir as chances de termos doenças, como a depressão, mas quando isso se encontra com uma situação de pressão, de estresse, quem está mais vulnerável geneticamente tem mais chance de ter depressão. Então, a causa é uma combinação de fatores genéticos e ambientais.

Izabela – Como identificar uma pessoa em depressão?Paulo Menezes - Não é muito fácil. É bastante sugestivo que uma pessoa esteja passando por uma depressão quando ela está desanimada, triste ou sem interesse pelas coisas que tinha antes por vários dias ou semanas. Às vezes isso está acompanhado de outros sintomas como ficar irritado à toa, não conseguir se concentrar ou não comer direito. Normalmente a gente fica chateado, mas depois a vida continua. Agora, quando a pessoa fica assim, a gente tenta ajudá-la dizendo "vamos lá", mas ela não consegue.

Marcellus - Tem algum sinal físico, corporal?Paulo Menezes - Uma pessoa com depressão pode ficar mais lenta para fazer as coisas ou ficar muito agitada. Isso porque, às vezes, a depressão vem junto com ansiedade, então tem gente que está deprimida, mas fica inquieta, anda de um lado para o outro, não consegue ficar num lugar, numa conversa. E outra coisa física que pode acontecer é ou ganho de peso ou perda de peso. Tem gente que começa a comer mais e tem gente que para de comer.

Ryan - Se uma pessoa está passando por um momento ruim na vida e começa a pensar em suicídio, ela já está com depressão?
Paulo Menezes - Em geral, quando há ideias de suicídio, a gente já considera que isso é uma manifestação de depressão. Entre os critérios de diagnósticos da depressão tem que ter diferentes manifestações ou o pensamento suicida. Basta ter o pensamento suicida que já consideramos ser uma coisa muito importante.

Jessé – Teria alguma forma de prevenir a depressão?Paulo Menezes - Há algumas coisas que a gente sabe e outras não. Para depressão, o que a gente sabe é que os mais pobres têm mais chances, provavelmente porque a vida deles é muito mais difícil. Não temos muitos estudos que mostram isso, mas é possível que na medida em que haja programas para melhorar a vida dos mais pobres isso seja uma forma de prevenir depressão.

Jessé - Está relacionado à qualidade de vida então?
P
aulo Menezes - Exatamente. Eu gostaria muito de saber se, por exemplo, programas como o Bolsa Família causam algum impacto para diminuir as chances dessas pessoas terem depressão. A cidade também pode ter coisas que ajudam as pessoas a se sentirem melhor: parques, áreas de lazer, um sistema de transporte mais eficiente... Acredito que com a melhora desses aspectos poderia diminuir a depressão na população. No indivíduo, a escolaridade é importante: quanto mais a gente estuda, menor a chance de ter depressão.

Jessé – A saúde mental melhora com a escolaridade?
Paulo Menezes - A saúde mental melhora porque, lógico, melhora a renda, o emprego, mas eu também acho que melhora porque quanto mais a gente entende das coisas mais conseguimos lidar com as dificuldades. Então isso também seria uma forma de prevenir. Outra coisa é que, bom, precisamos conversar sobre isso. As pessoas precisam saber que isso é comum.

Alunos fazem entrevista coletiva durante a Oficina de Introdução ao
Jornalismo Científico. Foto: Luana Novaes

Tamires - Existe um estigma da parte dos pais quando o adolescente se autoavalia com depressão. Qual seria uma forma de contar para os pais que você está com depressão?
Paulo Menezes - Eu entendo perfeitamente a sua pergunta, mas eu acho que é porque a maioria dos pais não tem informação e então não consegue compreender o que pode estar acontecendo com o filho nessa condição. Acesso à informação sobre depressão é uma coisa essencial.

Marcellus - Pegando um pouco pelo lado positivo, agora, como é o processo de superação? Tem muitos casos? O que as pesquisas estão apontando?Paulo Menezes - Uma grande proporção das pessoas que passam por fase de depressão consegue sair por conta própria. Outra grande parte consegue sair com a ajuda de alguém que saiba técnicas, que podemos chamar de psicoterapia de uma maneira geral, mas podem ser coisas simples como um aplicativo baseado na ativação de comportamento [que estimula a pessoa a realizar tarefas pouco a pouco até voltar à sua rotina]. Outra técnica muito legal também é de resolução de problemas [que estimula a pessoa a organizar suas ideias para lidar com os problemas]. Depois tem a medicação que ajuda principalmente quem tem sintomas mais intensos para que comece a reorganizar a vida. E se combinar isso com o apoio que a gente chama de psicoterapia, para a pessoa pensar sobre seus problemas e como resolvê-los, funciona melhor ainda. Uma pequena proporção das pessoas tem quadros mais graves e aí precisa do psiquiatra, especialista, para tratamentos mais complexos.

Jessé - Nos tratamentos, os remédios são mais presentes do que essas outras ações?
Paulo Menezes –
Em um estudo que a gente fez com uma amostra do Brasil, 80% das pessoas não estava sendo tratada. Dos 20% que estavam sendo tratados, em torno de 15% estava recebendo remédio e 5% fazia algum tipo de terapia. Então o remédio para o médico é mais fácil, é bastante usado, e o acesso a outras terapias é muito pequeno porque não tem no SUS, as pessoas precisam pagar psicólogo, ou os profissionais do SUS não foram treinados para oferecer esse tipo de apoio. No estudo que a gente fez pouco tempo atrás com gestantes com depressão, nós treinamos o auxiliar de enfermagem para fazer uma dessas técnicas de resolução de problemas para gestante com depressão. Esse é o caminho para poder ampliar o acesso das pessoas para esse tipo de tratamento.


Ilustração feita durante a entrevista por Fernanda Landim

Debora - Quais as perspectivas para a prevalência de transtornos mentais comuns nos jovens e o avanço da tecnologia e na medicina?
Paulo Menezes - Entre os jovens eu acho que é importante conversar. Na medida em que a gente põe na sala de aula e no currículo a conversa sobre saúde, e sobre esse tema, algo que está começando a ser feito, isso vai ajudar. Antigamente a vida era muito mais difícil do que é hoje, o progresso tecnológico nos ajuda a ter mais qualidade de vida e isso também vai ter um impacto sobre a depressão. Além disso, precisamos continuar fazendo pesquisa para poder compreender melhor e ajudar as pessoas com esses problemas.

Tamires - Geralmente quando estamos tristes demais, nós pesquisamos na internet tentando fazer uma autoavaliação. Isso é importante ou não é muito bom porque a pessoa pode ficar com pensamentos negativos?
Paulo Menezes - Não concordo que saber vai ser pior. Pensamentos negativos vão ficar na cabeça independente de a pessoa ler ou não. É melhor conversar porque a pessoa, às vezes, não imagina que alguéma possa entender que ela está pensando, sentindo. Na nossa experiência, perguntar é o primeiro passo para buscar ajuda e se recuperar.


* Matéria produzida pelos alunos da Oficina de Introdução ao Jornalismo Científico (saiba mais) para o jornal Fernão em Dia.

Entrevista: Jessé Oliveira, Izabella Rocha, Debora Novaes, Marcellus Janes, Milena Barbosa, Jenifer Plaza, Isabella Costa, Fernanda Marques e Tamires Souza.
Imagens: Luana Novaes, Wesley Brandão, Gabriel Galhardo, Issabela Costa e Fernanda Landim.
Edição: Isabella Vitória e Patricia Santos.

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Jornalismo Científico é tema de oficina para ensino médio

Em 2017, o Projeto Imunologia nas Escolas está acontecendo na Escola Estadual Fernão Dias Pais, na zona oeste de São Paulo.

Além da programação de atividades sobre imunologia, este ano o projeto também está realizando a Oficina de Introdução ao Jornalismo Científico nos meses de agosto e setembro. As atividades são semanais e acontecem na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Os participantes são estudantes do primeiro ano do ensino médio na Fernão Dias. Também há alguns estudantes de ensino superior e profissionais que se interessaram pelo tema e estão acompanhando a oficina.

Participantes discutem e experimentam práticas do jornalismo
na oficina ministrada por Patricia Santos (dir.) | Imagem: Verônica Coelho

Sobre a oficina

A Oficina de Introdução ao Jornalismo Científico tem como proposta apresentar aos estudantes noções da linguagem e das práticas utilizadas por jornalistas, na área da ciência, como intermediadores da comunicação entre os pesquisadores e a população.

Além disso, “é complementar ao Projeto Imunologia nas Escolas ao trazer debates e reflexões sobre a construção do conhecimento científico, sobre o papel do jornalismo e seus desafios nos dias de hoje, além da importância da visão crítica do cidadão no contato com as mídias e a ciência”, explica a jornalista e facilitadora da atividade Patrícia Santos, gestora na empresa Conecta Ciência.

Esta é a segunda edição da oficina como parte do Projeto Imunologia nas Escolas. A primeira foi concluída em 2013 sendo, na ocasião, voltada aos alunos do projeto na Escola Estadual Romeu de Moraes, na cidade de São Paulo. Saiba mais aqui.

Conheça esta turma!

Uma das primeiras atividades da Oficina de Introdução ao Jornalismo Científico foi sobre técnicas de entrevista jornalística. Como exercício, os alunos se dividiram em grupos em que atuaram como repórteres, entrevistados, fotógrafos ou editores.

A seguir, confira imagens e trechos das entrevistas feitos pelos alunos durante o exercício:

Jessé Gomes e Izabella Rocha entrevistaram Fernanda Landim (dir.) 

A dupla de editoras assistentes: Tamires Silva (esq.) e
Gabriella Forabelli, estudante de jornalismo 

As alunas Jenifer Plaza, Fernanda Marques, Isabella Vitoria

Isabella Costa (esq.) é entrevistada por Débora de Novais e
Milena Barbosa, doutoranda na Faculdade de Saúde Pública-USP 

Ryan Andrade entrevista Luana de Novaes 

As alunas Luana de Novaes e Fernanda Landim


Gabriel Galhardo foi fotógrafo com as dicas da
assessora de comunicação Renata Féres

Fernanda Landim, 14 anos
Como passatempos, gosta de desenhar, tocar violão e jogar futebol. No jornalismo, sua área preferida é esportes. Outros interesses de Fernanda são anatomia e artes surrealistas; na literatura suas preferências são drama, romance e comédia. “Tive uma infância bastante humilde, sempre morei na mesma casa, como tinha irmãos cresci como um ‘moleque’, aprontava muito quando criança, porém nunca fui de me machucar, vivi boa parte da vida com meus primos e irmãos, adoro a Bahia e o sol”, conta.

Isabella Costa, 14 anos
A estudante afirma que o contato com o Projeto Imunologia nas Escolas lhe trouxe uma visão mais ampla sobre a ciência. Para atrair mais crianças e adolescentes para assuntos relacionados à ciência ela pensa que deveria haver mais passeios, aulas de informática, jogos em sala de aula, “brincar um pouco com a ciência, assim as crianças se interessariam mais”, afirma.

Maria Eduarda Ribeiro, 14 anos
A estudante gosta de assistir animes clássicos e acredita que é um esteriótipo pensar que são apenas desenhos para crianças. “Além de divertidos, você pode aprender com eles também”, afirma. Maria Eduarda pensa em se formar em história, mas tem interesse em jornalismo científico e observa que a oficina atraiu um público com interesses diversos, é “para ajudar em uma formação futura”, afirma.

Fernanda Marques, 15 anos
Além de ser leitora de romances, Fernanda gosta de estudar química e de escutar músicas estilo metal. Para o futuro, ela ainda não tem uma ideia concreta, mas pensa na faculdade de administração como uma opção para entrar em qualquer parte de uma empresa. Sobre trabalhar em uma área que requer conhecimentos científicos, Fernanda afirma que talvez seja uma possibilidade. “Acho que tem que dar muito de si, gostar muito da área e saber se é sobre ciência que você quer estudar durante sua vida”, reflete.

Luana Soares de Novais, 14 anos
Divulgar novas ideias, alertar e orientar são os pontos que chamam a atenção de Luana no jornalismo. A estudante conta que fica atenta aos assuntos na área de saúde nas notícias. Na ciência, o que mais lhe chama a atenção é a paciência dos cientistas para ficarem anos em uma só pesquisa, além de estarem sempre obtendo novos conhecimentos. No dia a dia, ela gosta de assistir séries de fantasia ou ficção científica; gosta de estudar coisas envolvendo arquitetura, desenho e matemática, e seu tipo de livro favorito é o romance. No momento ela tem ouvido artistas pop como Demi Lovato, Ed Sheran e Shaw Mendes, mas gosta de diversos tipos de música.


Equipe que realizou as entrevistas:

Repórteres: Letícia Andrade, Jessé Oliveira, Izabella Pires, Wesley Brandão, Debora Soares de Novaes, Milena Barbosa, Jenifer Plaza, Isabella Vitória.

Entrevistadas: Fernanda Landim, Isabella Costa, Maria Eduarda Ribeiro, Fernanda Marques, Luana Soares de Novaes.

Editoras assistentes:
Tamires Souza Neves Silva e Gabriella Forabelli.

Fotógrafos: Gabriel Galhardo e Renata Féres.

Edição das entrevistas: Patricia Santos.

Coordenadora do Projeto Imunologia nas Escolas: Verônica Coelho.

Não poderia faltar a selfie da turma!