terça-feira, 23 de novembro de 2010

Três décadas de Aids


Sob certas condições uma pessoa pode apresentar um estado de imunodeficiência que se traduz por:

— maior suscetibilidade a infecções;
— fenômenos de autoimunidade;
— surgimento de doenças malignas, tumores e cânceres de pele;
— processos alérgicos graves e recorrentes.

Existem vários fatores que podem levar a um estado de imunodeficiência. Alguns desses fatores são congênitos, ou seja, a pessoa já nasce com o problema. Outro é o fator nutricional, motivado pela falta de certas vitaminas e nutrientes (isso acontece frequentemente com crianças, por motivos sociais ou culturais).
Existem também os casos de imunodeficiência decorrentes de viroses.
Normalmente, esses estados são transitórios, como ocorre com o sarampo. No entanto, o caso mais conhecido, a Aids, não é transitório.
 Aids é a sigla para a expressão inglesa acquired immunodeficiency syndrome. Em português: “síndrome de imunodeficiência adquirida”. Síndrome quer dizer “conjunto de sintomas”. Imunodeficiência adquirida tem significado mais ou menos evidente: deficiência adquirida da capacidade de reagir a agentes invasores do organismo.

Boa parte dos sintomas relacionados à Aids deve-se às doenças oportunistas. Essas moléstias são assim chamadas porque são desencadeadas por microrganismos que só conseguem parasitar o organismo quando o sistema imune está muito debilitado. Ou seja, uma pessoa com esta síndrome pode morrer, de tuberculose, pneumonia, tumores e outras doenças, todas causadas pelos agentes oportunistas.

Aids não se pega com abraços, beijos, carinhos e apertos de mão.

Nessa doença, a debilitação do sistema imune deve-se a alterações na taxa ou no comportamento de diferentes células do sistema imune, entre elas os linfócitos CD4+, as células supressoras e as células fagocitárias (por exemplo, os macrófagos).
Em muitos casos, uma das principais características relacionadas ao desenvolvimento da doença é justamente a queda progressiva do número de linfócitos CD4+ na corrente sanguínea.
A causa é um vírus chamado HIV (de human immunodeficiency virus, vírus da imunodeficiência humana). Esse vírus foi identificado pela primeira vez em 1983, pelo
cientista francês Luc Montagnier, que o isolou de um paciente aidético.


Esquema do vírus HIV.

O HIV é transmitido por contato entre o sangue (ou secreções) de uma pessoa contaminada e o sangue (ou secreções) de uma pessoa sadia. As vias de transmissão reconhecidas são o contato sexual, as transfusões de sangue e a utilização de agulhas contaminadas.
O vírus possui em sua composição uma proteína com uma forte afinidade por células do sistema imune. Uma vez ligado a essas células, o HIV pode entrar no interior delas e aí permanecer livre da ação do sistema imune.
Dessa forma, o vírus pode reproduzir-se à vontade, destruindo as células e assim prejudicando o sistema imune. Em outros casos isso não ocorre, e o vírus permanece latente, adormecido no interior das células por longos períodos, dividindo-se somente quando as células se dividem.
Com a descoberta do vírus, a Aids foi reconhecida como uma doença infecciosa. E o HIV, seu agente etiológico.
Conhecendo o agente etiológico da doença, o próximo passo dos cientistas foi tentar elaborar uma vacina eficaz contra ele, que barrasse a propagação da doença na população.


Números da AIDS no mundo entre 1981 e 2008

AIDS & HIV information from AVERT.org

Um aspecto que atrapalha o trabalho dos cientistas é a existência de muitas variedades do mesmo vírus, o que dificulta a elaboração de uma vacina única contra a moléstia. Isso ocorre devido ao fato do material genético do vírus sofrer inúmeras mutações.
Por outro lado, nos últimos anos desenvolveu-se uma terapia a base de diversas drogas que, em conjunto, permitem controlar a reprodução do vírus e sua ação sobre o sistema imune. O coquetel, como é chamado, é a combinação de diferentes drogas que em conjunto bloqueiam a entrada do vírus nas células, inibem sua proliferação e evitam duplicação do vírus.

As atuais perspectivas
Por tudo o que foi dito, descobrir uma vacina contra a doença deixou de ser o único objetivo no estudo da Aids. Antes, é preciso saber exatamente qual vacina produzir e contra o quê imunizar.

A indústria farmacêutica também se deu conta de que a coisa não é simples e atualmente estão sendo testadas novas drogas que, utilizadas de maneira combinada, parecem obter melhores resultados do que quando administradas isoladamente.

Outro aspecto bastante discutido é a falta de conhecimento sobre os mecanismos que desencadeiam a deficiência imunológica e a instalação da doença. Falta entender melhor como atua o sistema imune nessa doença.
Citando a abertura de um artigo publicado na Science, uma conceituada revista científica americana, podemos dizer que agora “a pesquisa sobre a Aids está abandonando o vírus para estudar o sistema imune”. Talvez somente a partir de uma maior compreensão desse sistema vamos entender realmente o que é a síndrome da imunodeficiência adquirida. Por enquanto, o melhor a fazer é se prevenir.

Aids em números

Até o final de 2007, 33,2 milhões de casos de aids e 2,1 milhões de mortes entre pessoas com Aids tinham sido relatados à Organização Mundial de Saúde (OMS). Aproximadamente 15,4 milhões desses casos ocorreram em mulheres e cerca de 68% (22,5 milhões) de todas as pessoas infectadas com o HIV estavam vivendo na África.
De acordo com a agência de notícias da AIDS, de 1980 a junho de 2009, foram registrados 544.846 casos de aids no Brasil. Durante esse período, 217.091 mortes ocorreram em decorrência da doença. Por ano, são notificados entre 33 mil e 35 mil novos casos de aids.
Em relação ao HIV, a estimativa é de que existam 630 mil pessoas infectadas no país.
Dos casos de aids acumulados de 1980 até junho de 2009, a região Sudeste é a que tem o maior percentual do total de notificações, 59,3%. O Sul concentra 19,2% dos casos; Nordeste 11,9%, Centro-Oeste 5,7%, e Norte 3,9%. Dos 5.564 municípios brasileiros, 87,5% (4.867) registram, pelo menos, um caso da doença.

Paulo Cunha (Grupo de trabalho do Projeto Imunologia nas Escolas).

Bom estudo!

Abraços,
Karine*

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